Opinião
O embarque no cais Pharoux
Por Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Quando o coronel Mallet, destacado pelo novo ministro da Marinha, Wandenkolk, chega ao Paço da Cidade, cerca de 1h30min da madrugada do dia 17, para conduzir a família imperial ao navio, ela e as pessoas que lhe acompanham estão recolhidas a seus aposentos. Todos dormem. Vencidos pela tensão da véspera, tinham se recolhido por volta das 23h, depois que o imperador fixara a partida para as 14h, um domingo, após assistir a missa na capela do Carmo.
É, pois, com surpresa que todos despertam naquela madrugada com a inesperada chegada do coronel Mallet. É o conde d`Eu quem o recebe. Mallet diz-lhe que se receiam demonstrações da população em favor do imperador no momento do embarque; que os estudantes se armam com fuzis e metralhadoras para se oporem a tais manifestações. Em resumo, o Governo Provisório pede ao imperador e sua família para embarcar pela madrugada, a fim de evitar-se efusões de sangue. O conde d´Eu desperta a princesa Isabel e desce a escadaria depois de bater na porta do médico Motta-Maia, do príncipe Pedro Augusto e das demais pessoas que acompanham o imperador. Enquanto esperam dom Pedro II, os prisioneiros, mal despertados, reúnem-se no salão principal onde os aguarda o coronel. Nervosa, a princesa Isabel interpela-o: "Como é isto? Os senhores estão doidos? O que nós fizemos? Hão de arrepender-se!" Passados alguns minutos, abre-se a porta e surge a imagem imponente do imperador. Veste casaca e traz na mão a inseparável cartola. Altivo, com o olhar fixo no coronel Mallet, interpela-o: "Que é isto? Então vou embarcar a esta hora da noite?". Mallet, respeitoso, responde-lhe: "O governo pede a Vossa Majestade que embarque antes da madrugada; assim convém". Dom Pedro retruca: "Que governo?" Mallet responde: "O governo da República". O imperador pergunta: "Deodoro também está metido nisso? "Está sim senhor", diz Mallet, "ele é o chefe do governo republicano". Remata dom Pedro: "Então estão todos malucos!"
Após protestar contra o adiantamento da partida, dizendo que não é nenhum fugido para embarcar àquela hora da madrugada, na intenção de evitar possíveis conflitos inúteis, dom Pedro II submete-se ao que deseja o governo republicano. Ajudado pelo conde d´Eu, o imperador desce as escadas do Paço. Uma vez alcançado o patamar, descansa um momento e, aos soldados que lhe apresentam armas, corresponde cheio de dignidade ao retirar o chapéu. Simples como sempre o foi, embarca na carruagem e ela toma o rumo do cais Pharoux.
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